terça-feira, 26 de agosto de 2008

Bip Bop

A gente ouve o que se ouve.
A gente vê o que se vê.
Na gente há o que se houve.
A gente lê o que se lê.

A gente come o que se come.
A gente pede o que se pede.
A gente pede o que se come.
A gente come o que se pede.

A gente lambe o que se lambe.
A gente esconde mas se lambe.
A gente lambe o que se esconde.
A gente lambe e se esconde.

A gente fala o que se fala.
A gente fala o que se escreve.
A gente escreve o que se fala.
A gente fala e reescreve.

A gente pensa o que se pensa.
A gente pensa que entende.
A gente entende que se pensa.
A gente pensa e não entende.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Zé Brasileiro

A vida de Zé Moleza
É uma grande ambigüidade,
Pois se foge da tristeza,
Não se vê felicidade.

E o salário do Moleza?
Não é grana de verdade.
Só lhe vale a sobremesa,
Não responsabilidade.

Todo dia acorda cedo,
Coisa de trabalhador.
Mas trabalho lhe dá medo,
Então paga de ator.

Chega logo no trabalho
Dando abraços no povão.
Mas seu plano lhe é falho,
Se perguntam sua função.

Minha função? – diz o Zé
Minha função é complicada.
Acontece é que o mané
Na verdade não faz nada.

Fazer nada não é fácil,
Requer muita atenção.
Nisso o Zé é muito ágil,
Parte logo pra ação.

Se chega cliente bravo,
Querendo uma explicação,
Para o Zé não há entravo
Em recitar o seu bordão.

Eu batalho o dia inteiro
Pra manter essa espelunca
Porque eu sou um brasileiro
Porque não desisto nunca.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cordel do Cornudo

Não se sabe bem e ao certo
Que doença ele tem,
Mas a fofoca no inferno
É que o Diabo não está bem.

Foi aí que começou
A balbúrdia no Além.
Se o tinhoso sai em férias,
É preciso entrar alguém.

O Diabo está cabreiro.
É um medo que ele tem:
Ver seu reino dominado
Pelo cara de Belém.

Pôs anúncio no jornal
Pra tentar achar alguém:
“Inimigos na caldeira.
Diabinhas no harém”.

Primeiro chegou o Lula,
“Masss” havia um porém.
Pra dar ordens no inferno,
É preciso falar bem.

O Maluf trouxe idéias:
Uma ponte e um trem.
“Pra cair na minha cabeça?
Cê nem vem que aqui não tem”.

Fernando Henrique tinha planos,
Privatizar todo o Além.
“Fazer cotas do inferno?!
E vender pra Jerusalém?!”.

Roberto Jefferson tem talento
Mas a boca não contém
Num discurso tão maldoso
Terminar dizendo “Amém”?

O Bush era renomado,
Mas o Diabo não quis também.
“O homem pode ser mau,
mas matou Saddam Hussein”.

Acabaram-se os candidatos
E o Diabo não achou ninguém
Todo político quer ser ele
Todo político está aquém.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Problemas antigos, soluções modernas

- Amor, nosso filho está usando cocaína.
- Como você sabe?
- Ele faz parte da comunidade no orkut “Eu uso cocaína”.
- Vamos tirar o computador dele.
- Já fiz isso.
- E então?
- Não adiantou. Peguei uma mensagem no celular dele dizendo que usava cocaína.
- Vamos tirar o celular dele.
- Também já tirei.
- E aí?
- Aí ele saiu e voltou para casa com o olho vermelho.
- Vamos trancá-lo no quarto.
- Isso eu também já fiz. Mas adiantou menos ainda. Alguém passou a droga pela janela.
- E o que você fez?
- Acorrentei ele na cama.
- E isso funcionou?
- Acho que sim, mas como ele não pode ir até o banheiro, o quarto virou um verdadeiro esgoto.
- É, acho que não tem outro jeito. Vamos ter que educá-lo.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Cotidiano

- A rotina te pega de surpresa.
- Não é verdade.
- Como você pode ter tanta certeza?
- Faz anos que, sempre que vou ao trabalho, minha mulher diz que vou acabar tendo algum tipo de rotina. E não houve um só dia em que isso aconteceu.
- E como ela pode saber, se não vai ao trabalho com você?
- Eu conto a ela todos os dias, quando chego em casa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Reza braba

- Ó Senhor, se estiveres me ouvindo dê-me um sinal.
- Fala.
- Ahhh! Quem é você?
- Deus
- Deus?!
- É, Deus. Fale logo o que quer que eu não tenho tempo.
- Senhor, eu pequei. Eu enfiei uma garrafa na bunda. Me perdoe, por favor.
- Por enfiar a garrafa na bunda? E por que é que enfiar uma garrafa na bunda seria pecado?
- Não sei, Senhor. É?
- Me diz você. Eu não tenho vindo muito à igreja, não estou inteirado dessas coisas.
- Bem, Senhor. O padre considera isso uma ofensa ao Senhor.
- A mim? Mas a bunda é sua.
- Mas foi o Senhor que fez.
- Não seja por isso. Pergunte a um fabricante de privadas se ele quer saber tudo o que se passa dentro dos produtos que faz.
- Mas, Senhor. Se não é responsabilidade do Senhor me perdoar, de quem é?
- Sua, porra.
- Minha?
- Claro. Quem disse que eu tenho responsabilidades? Vocês inventaram isso porque não sabem viver direito. E olha que eu fiz de tudo pra ajudar. Primeiro eu criei a vida, então vocês ficaram entediados e eu criei a morte. Aí vocês passaram a vida esperando a morte, então eu criei os órgãos sexuais. E o que vocês fizeram? Criaram a responsabilidade. E pior, atribuíram a mim. Se um vizinho seu diz que conhece algum artista de cinema, vocês pedem prova. Mas se um mendigo de saiote diz que sou eu, vocês acreditam de primeira. E depois perguntam porque eu não apareço por aí fazendo showmício.
- Mas, Senhor. Todos nós temos consciência de uma força maior que rege o mundo.
- Claro que têm. O nome disso é mídia. E essa é que está mais longe de ser criação minha. Se eu dou pêlos, ela diz pra raspar. Se eu dou inteligência, ela prega a ignorância. Se eu dou pinto, ela prega abstinência. Se eu dou o envelhecimento, ela prega a juventude eterna. Se eu dou a bunda, ela inventa o pecado.
- Então quer dizer que o pecado não existe, Senhor?
- Existir, existe, mas foram vocês que inventaram. Mais uma ilusão barata das massas.
- E como eu faço pra viver fora dessa ilusão, Senhor?
- Simplesmente viva. Pare de pensar tanto. Pare de ouvir os outros mais que a si mesmo. Saia dessa igreja, pegue outra garrafa, enfie na bunda e seja feliz.
- Sim, Senhor. Muito obrigado. Adeus, Senhor.
- E mais uma vez um mendigo de saiote salva a humanidade. Padreeee, ô padre, me arruma um pratinho de comida aí, vai.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Toma-lá-dá-cá

- Eu quero ser bonito.
- Pois não. Quão bonito?
- Completamente. Quero ser admirado pela minha beleza.
- Hum, isso vai custar caro.
- Você parcelam?
- Sim, mas só tem um detalhe. Precisamos de uma garantia de pagamento.
- Que garantia?
- Seu cérebro.
- Meu cérebro? Eu não vou colocar meu cérebro no prego.
- Então não vai ficar bonito.
- Não tem outro jeito?
- Tem. Nascer bonito, mas vejo que esse não é o seu caso.
- Não diga sem saber. Eu posso ter nascido bonito e ficado assim depois.
- Se fosse assim você não hesitaria em empenhar seu cérebro.
- Por que não?
- Querido, não existe ex-drogado conformado. Não existe ex-alcoólatra conformado. Não existe ex-bonito conformado. Você não pode tirar um vício de alguém e achar que vai ficar tudo bem.
- Ok, eu não sou um ex-bonito e pelo visto não vou ser um futuro bonito. Não vejo vantagens em trocar meu cérebro por beleza.
- Mas têm. Muitas vantagens. Além das óbvias, claro. Por exemplo, a sua beleza terá prazo de validade estabelecido. Dizemos a você exatamente quando ela vai acabar. Já o seu cérebro, ninguém sabe. Já tivemos casos de perder cérebros por desuso em apenas dois anos na nossa caixa de penhor.
- E quando é que o prazo de validade da minha beleza acaba?
- Na velhice. Infelizmente a beleza que vendemos só funciona acoplada à juventude. Mas também não há problemas quanto a isso. Ao comprar a sua beleza o senhor recebe TOTALMENTE DE GRAÇA uma ilusão de juventude e uma ilusão de beleza para usar juntas na velhice.
- Nesse caso é de se pensar. Mas e quando eu acabar de pagar? Posso pegar meu cérebro de volta?
- Pode sim. Só não garantimos que ele estará funcionando bem. Sabe como é, muito tempo parado... o cérebro não é tão forte e durável quanto a beleza.
- Bom, então está fechado. Onde eu assino?
- Aqui. Obrigada.
- Só mais uma dúvida. Que garantia eu tenho de que vocês não venderão meu cérebro enquanto estiverem com ele?
- Não se preocupe, não é do nosso interesse. Se o senhor fechou esse negócio, quer dizer que ele já não vale grande coisa mesmo.

Geração Barbie

- Essa é a Barbie. Ela vem com mini-saia para atrair o Ken, maquiagem para enfeitiçar o Ken e sutiã para seduzir o Ken.
- Essa é a Barbie alternativa. Ela vem com mini-saia rasgada para atrair o Ken, maquiagem exagerada para chamar a atenção do Ken e sutiã de renda para seduzir o Ken.
- Já essa aqui é a Barbie feminista. Ela vem com mini-saia para atrair o Ken, maquiagem para esnobar o Ken e sutiã queimado para intrigar o Ken.
- Essa outra é a Barbie independente. Ela vem com micro-saia para implorar a atenção do Ken, maquiagem leve para disfarçar e sem sutiã.
- E aquelas ali?
- Aquelas ali são as Susis, uma nova categoria para aquelas que tentam ser a Barbie e não conseguem.
- E você tem alguma que não seja e não queira ser a Barbie?
- De verdade? Não. No fundo todas querem ser, de um jeito ou de outro.
- Está certo. Obrigado mesmo assim.
- Ei, espere.
- Pois não?
- Por que não tenta a loja de bonecas? É aqui do lado da agência de acompanhantes.