quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Reza braba

- Ó Senhor, se estiveres me ouvindo dê-me um sinal.
- Fala.
- Ahhh! Quem é você?
- Deus
- Deus?!
- É, Deus. Fale logo o que quer que eu não tenho tempo.
- Senhor, eu pequei. Eu enfiei uma garrafa na bunda. Me perdoe, por favor.
- Por enfiar a garrafa na bunda? E por que é que enfiar uma garrafa na bunda seria pecado?
- Não sei, Senhor. É?
- Me diz você. Eu não tenho vindo muito à igreja, não estou inteirado dessas coisas.
- Bem, Senhor. O padre considera isso uma ofensa ao Senhor.
- A mim? Mas a bunda é sua.
- Mas foi o Senhor que fez.
- Não seja por isso. Pergunte a um fabricante de privadas se ele quer saber tudo o que se passa dentro dos produtos que faz.
- Mas, Senhor. Se não é responsabilidade do Senhor me perdoar, de quem é?
- Sua, porra.
- Minha?
- Claro. Quem disse que eu tenho responsabilidades? Vocês inventaram isso porque não sabem viver direito. E olha que eu fiz de tudo pra ajudar. Primeiro eu criei a vida, então vocês ficaram entediados e eu criei a morte. Aí vocês passaram a vida esperando a morte, então eu criei os órgãos sexuais. E o que vocês fizeram? Criaram a responsabilidade. E pior, atribuíram a mim. Se um vizinho seu diz que conhece algum artista de cinema, vocês pedem prova. Mas se um mendigo de saiote diz que sou eu, vocês acreditam de primeira. E depois perguntam porque eu não apareço por aí fazendo showmício.
- Mas, Senhor. Todos nós temos consciência de uma força maior que rege o mundo.
- Claro que têm. O nome disso é mídia. E essa é que está mais longe de ser criação minha. Se eu dou pêlos, ela diz pra raspar. Se eu dou inteligência, ela prega a ignorância. Se eu dou pinto, ela prega abstinência. Se eu dou o envelhecimento, ela prega a juventude eterna. Se eu dou a bunda, ela inventa o pecado.
- Então quer dizer que o pecado não existe, Senhor?
- Existir, existe, mas foram vocês que inventaram. Mais uma ilusão barata das massas.
- E como eu faço pra viver fora dessa ilusão, Senhor?
- Simplesmente viva. Pare de pensar tanto. Pare de ouvir os outros mais que a si mesmo. Saia dessa igreja, pegue outra garrafa, enfie na bunda e seja feliz.
- Sim, Senhor. Muito obrigado. Adeus, Senhor.
- E mais uma vez um mendigo de saiote salva a humanidade. Padreeee, ô padre, me arruma um pratinho de comida aí, vai.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Toma-lá-dá-cá

- Eu quero ser bonito.
- Pois não. Quão bonito?
- Completamente. Quero ser admirado pela minha beleza.
- Hum, isso vai custar caro.
- Você parcelam?
- Sim, mas só tem um detalhe. Precisamos de uma garantia de pagamento.
- Que garantia?
- Seu cérebro.
- Meu cérebro? Eu não vou colocar meu cérebro no prego.
- Então não vai ficar bonito.
- Não tem outro jeito?
- Tem. Nascer bonito, mas vejo que esse não é o seu caso.
- Não diga sem saber. Eu posso ter nascido bonito e ficado assim depois.
- Se fosse assim você não hesitaria em empenhar seu cérebro.
- Por que não?
- Querido, não existe ex-drogado conformado. Não existe ex-alcoólatra conformado. Não existe ex-bonito conformado. Você não pode tirar um vício de alguém e achar que vai ficar tudo bem.
- Ok, eu não sou um ex-bonito e pelo visto não vou ser um futuro bonito. Não vejo vantagens em trocar meu cérebro por beleza.
- Mas têm. Muitas vantagens. Além das óbvias, claro. Por exemplo, a sua beleza terá prazo de validade estabelecido. Dizemos a você exatamente quando ela vai acabar. Já o seu cérebro, ninguém sabe. Já tivemos casos de perder cérebros por desuso em apenas dois anos na nossa caixa de penhor.
- E quando é que o prazo de validade da minha beleza acaba?
- Na velhice. Infelizmente a beleza que vendemos só funciona acoplada à juventude. Mas também não há problemas quanto a isso. Ao comprar a sua beleza o senhor recebe TOTALMENTE DE GRAÇA uma ilusão de juventude e uma ilusão de beleza para usar juntas na velhice.
- Nesse caso é de se pensar. Mas e quando eu acabar de pagar? Posso pegar meu cérebro de volta?
- Pode sim. Só não garantimos que ele estará funcionando bem. Sabe como é, muito tempo parado... o cérebro não é tão forte e durável quanto a beleza.
- Bom, então está fechado. Onde eu assino?
- Aqui. Obrigada.
- Só mais uma dúvida. Que garantia eu tenho de que vocês não venderão meu cérebro enquanto estiverem com ele?
- Não se preocupe, não é do nosso interesse. Se o senhor fechou esse negócio, quer dizer que ele já não vale grande coisa mesmo.

Geração Barbie

- Essa é a Barbie. Ela vem com mini-saia para atrair o Ken, maquiagem para enfeitiçar o Ken e sutiã para seduzir o Ken.
- Essa é a Barbie alternativa. Ela vem com mini-saia rasgada para atrair o Ken, maquiagem exagerada para chamar a atenção do Ken e sutiã de renda para seduzir o Ken.
- Já essa aqui é a Barbie feminista. Ela vem com mini-saia para atrair o Ken, maquiagem para esnobar o Ken e sutiã queimado para intrigar o Ken.
- Essa outra é a Barbie independente. Ela vem com micro-saia para implorar a atenção do Ken, maquiagem leve para disfarçar e sem sutiã.
- E aquelas ali?
- Aquelas ali são as Susis, uma nova categoria para aquelas que tentam ser a Barbie e não conseguem.
- E você tem alguma que não seja e não queira ser a Barbie?
- De verdade? Não. No fundo todas querem ser, de um jeito ou de outro.
- Está certo. Obrigado mesmo assim.
- Ei, espere.
- Pois não?
- Por que não tenta a loja de bonecas? É aqui do lado da agência de acompanhantes.