segunda-feira, 14 de maio de 2007

A rave do papa

Armei a barraca do papa na porta o Ibirapuera. Não era dessas barracas luxuosas, que cobrem o chão e barram o vento, mas era a única lá que vinha com a foto do papa. Acho que eu despertei inveja. Um risinho aqui, uma piadinha ali, uma buzinada, tudo inveja. Podiam falar o que fosse, mas ninguém tinha nada pra fazer ali. Eu tinha. Tinha uma mensagem para o papa, um grito que estava preso na minha garganta há anos. Quer dizer, não tão preso quanto o zíper da barraca do papa, que entalou logo na primeira hora da manhã.

Depois de duas horas, percebi que o zíper não abriria com orações. Também, essa barraca nem era do papa mesmo. Pra comprar a barraca do papa de verdade eu teria que ir ao Vaticano e não na 25 de Março. Mas não importa. Alguns gritos de socorro depois, duas boas almas e um canivete, lá estava eu na fila, esperando para passar a minha mensagem ao papa. Eu precisava ensaiar. Eu chegaria lá, olharia bem nos olhos dele e diria...PAPA.

Lá vinha ele, no papa-móvel. Acho que não poderia existir nome melhor para o carro do papa, papa-móvel. Isso porque todo super herói tem o seu alguma-coisa-móvel, desde o Batman até a Mulher-Maravilha e, porque não, o papa. O papa é mais herói que qualquer outro herói. Olha o Super Homem por exemplo, vive lá, combatendo sei-lá-quantos vilões bizarros. Se tivessem dado ouvidos para o papa e abolido a camisinha, já estavam todos com Aids, essa cambada. Já tinham ido pro saco que nem os fanáticos lá do oriente. Agora que tem bomba explodindo e neguinho voando pra tudo quanto é lado é que vêm falar: “Bem que o papa avisou que eles não prestavam”.

O papa avisou muita coisa, mas ninguém dava ouvidos, só eu. É por isso que eu tinha mais direitos que todo mundo ali de falar com ele. Lógico que pra fazer valer esse direito, precisaria de um pouco de punho. Literalmente. Quem estava na minha frente que me perdoasse, mas eu precisava passar. Não fariam mal a ninguém uns empurrões, chutinhos, socos, chaves-de-braço, estragulamentos e golpes na cabeça com o cano da barraca do papa. O importante é que eu consegui chegar ao palco de filmagem de uma rede de TV e fiquei cara-a-cara com o papa. Por um instante eu travei. Queria ficar ali, só olhando para ele. Mas eu precisava falar, antes que a policia me tirasse dali. Por isso, esperei pacientemente ele olhar para mim. Quando isso aconteceu, ergui as costas, enchi o peito e gritei a plenos pulmões:
- LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
Agora, que viesse a policia, que viesse a multidão raivosa, que viesse o Super Homem. O recado estava dado.

Um comentário:

Anônimo disse...

tambem tenho um blog veja aí.....

http://www-omelhorblogdainternet.blogspot.com/