sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Che Brasilino

Um dia Brasilino acordou inconformado. Foi assim, sem muita explicação. A vida não piorara de repente, já era desse jeito desde que Brasilino era Brasilino. Mas hoje, apenas hoje, Brasilino não era ele.

- Mulher, por que nossos filhos passam fome?
- Porque são muitos. Foi você que quis ter tantos filhos. Um time de futebol, lembra? Doze jogadores.
- Eles não são jogadores. Eles têm lombriga.
- Isso aí é porque estão passando fome, Brasilino.
- Merda de idéia. O Pelé aparece na TV botando caramiola na cabeça da gente e dá nisso.
- Mata ele.
- E como é que eu vou matar o Pelé? Ele tem segurança, mulher.
- Mata o segurança e depois mata o Pelé. Simples.
- Mas e se ele me der um tiro antes? Porque já viu, né. O cara é profissional.
- Então primeiro você mata o cara do armazém que vende balas de revolver. Quero ver esse segurança te acertar se a arma estiver vazia.

O plano não lhe pareceu ruim, mas milagrosamente falhou. Brasilino não conseguiu matar o Pelé. Tudo foi por água a baixo quando o vizinho viu a mão do entregador do armazém brotando do jardim.

Brasilino foi parar na cadeia e na capa dos jornais. De lá, contou sua vida a um repórter que escreveu a auto-biografia do Brasilino (isso mesmo: auto). O livro esgotou em todas as lojas, assim como a caneca, a camiseta e o caderno escolar. Até um grill do Brasilino foi lançado, um com um buraquinho de escoamento que, segundo o comercial, era um tiro na gordura.

Emocionado com a saga de Brasilino, um conceituado treinador de futebol se ofereceu para dar aulas aos seus filhos. Logo, metade deles foi parar em times europeus. Os que ficaram também não se deram mal. Começaram a dar palestras de como vencer na vida, sem as quais jamais venceriam eles mesmos.

Brasilino viveu bem em condicional até o dia em que foi levou um tiro na cabeça. A Associação dos Entregadores de Armazéns assumiu a autoria do atentado. Isso causou revolta na população, que se armou, tomou todos os estabelecimentos comerciais e depois o governo.

Brasilino se tornou um mito. Ele pode não estar mais vivo, mas a sua mensagem jamais morrerá. Ela pode ser resumida em apenas uma frase, mas não cabe repeti-la aqui. Todo mundo já sabe qual é mesmo.

3 comentários:

Pedro Pimenta disse...

Olha, e eu que achava que isso fosse se tornar mais um jaborismo... divertida surpresa.

Danilo Thomaz disse...

Viu, mocinha, cá estou eu, apesar da sua enorme ausência no meu blog e em minha vida - buáááá! ! Muito bom mesmo! ! Gostei!

Beijos,

Dan

PS: nao tenho mais ninguém pra imitar aqui.

Leonardo Kurtz von Ende Bianco disse...

um time e um reserva né?