Roubaram Roraima. Depois do roubo da estátua do padre Cícero na capela, esse foi o segundo maior do ano. No começo o roubo passou despercebido. O de Roraima, claro. E passaria despercebido por alguns anos, se não fossem os gringos.
Eles chegaram e desembarcaram, lógico, no Rio. Foram logo perguntando onde tinha erva. Erva? Erva era ali no morro. Era só ir reto e dizer que queria erva. Não tinha erro. Mas gringo é um bicho complicado. Eles nunca querem o que dizem que querem. A erva que eles queriam era mato.
Mato era lá na Amazônia. Mas só de falar em Amazônia, os gringos tremiam. Eles achavam que a Amazônia era contagiosa. Você entrava lá como gringo, saia como brasileiro. O jeito era tomar vacina, muita vacina.
Assim eles puderam ir para a Amazônia tirar foto com seringueiro e abraçar índio sem medo de se contagiar. Mas o mais importante de tudo era achar a tal erva. Subiram o estado todo à procura da danada e quando chegaram lá em cima, na fronteira do Amazonas, o Brasil acabou.
Tinha alguma coisa aqui! – disseram. Alguma coisa? Alguma coisa o quê? Alguma coisa, eu tenho certeza que tinha mais alguma coisa aqui – insistiram – Ei May, o que diabos tinha aqui que sumiu? Tinha mais um estado – respondeu May.
Mais um estado? Mais um estado...mais um estado...nenhum brasileiro se lembrava de nada ali não. O Brasil acabava no Amazonas, tinham certeza. Os gringos podiam ver isso aqui, no mapa. Tá vendo? O Brasil acaba aqui, em...Roraima? Ah é, tinham esquecido de Roraima. E olha que coisa, roubaram Roraima. Fazer o que, né?
Vocês não vão procurar? – perguntaram os gringos. Não é da nossa política – responderam os brasileiros. Mas como roubam um estado inteiro e vocês nem buscam saber quem foi? – insistiram. Oras, já havíamos dito que não era da nossa política. Se quisessem, que procurassem eles.
E não é que eles foram procurar mesmo? Procuraram e acharam. Beleza, agora devolve aí – os brasileiros disseram. Achado não é roubado – responderam eles. Fazer o que, né? Deixe que eles se esbaldem lá em Roraima. A gente ainda tinha um Brasil inteiro para receber os outros gringos.
E gringo não faltava. Logo uma nova leva chegou, desembarcou no Rio e foi subindo até o Pará. Quando chegaram lá, disseram com cara de espanto – Tinha alguma coisa aqui! Xi, lá vêm eles de novo. Não, não tinha. O Brasil acaba no Pará, temos certeza. Maldita mania gringa de achar que sabe mais que brasileiro.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
João Silvério Trevisan: ééééé... Veja bem ô, ô, ô Carol, eu não sei bem, mas esta metáfora aponta uma leve homofobia cordial que não está de acordo com o projeto, faltou projeto. Quem é Roraima? Por acaso sou eu? Pode me chamar de viado...
Marcelino Freire: me faz ir pro próximo conto!
Rodrigo Petronio:
Marcelo Carneiro da Cunha: o Jorge Furtado vai adorar.
Márcia Tiburi: acho legal o tom da crítica social. Freud era um expert nisso. Precisamos continuar no mesmo caminho que ele, senão, daqui a alguns anos, iremos nos vangloriar da presença da Guilhermina Guinle na festa do nosso trabalho.
Wagner Carelli: foi sem esforço?
Rubens Ewald: Tá perfeito. Aposto que foi a Leandra que fez.
(Carol ajoelhando, perdendo o fôlego e socando o teclado de tanto rir)...Dava um segundo texto seus comentários!
Postar um comentário