quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Que atire a primeira bala

Mal sabiam eles quantas vidas seus risos custariam. Mal sabiam eles que sua vida estava nas mãos dos risíveis. E sua morte também.

Os risos vinham a galope, adiantados ou atrasados. Tinha até vale-riso. Coisa da modernidade, bem simples. Minha mãe gritando: Filho, não esqueça seus tentáculos. Pronto, vale-riso. Nem saí com os tentáculos ainda e já sei que vão rir de mim. É como injeção, dói por antecedência. Deveria chamar vale-lágrimas. Isso é, se as minhas valessem alguma coisa.

Mãe, eu não quero sair com os tentáculos. Mas não tinha jeito, eram ordens médicas. E para a minha mãe, só havia uma autoridade acima do médico. Pensando bem, não havia nenhuma. Se o médico disse tentáculos, tentáculos serão. E tentáculos foram. Roxos, gosmentos e esburacados como todo tentáculo.

Encaixava eles nos buracos extras do meu corpo e me preparava para aquilo que ia me marcar para resto da vida: risos. Os tentáculos me tornavam invisível, mas não do jeito que eu queria ser. Ali, eu não era eu e nem era ninguém. Eu era o garoto dos tentáculos.

Tentei rir com eles, fingir que também via graça em tentáculos. Os risos aumentaram ainda mais. Então, tentei fingir que não ouvia risos, que não havia tentáculos. Os risos se transformaram em gargalhadas. Subi no palco, tomei o microfone de assalto e disse que era igual a eles. Só que com tentáculos. As gargalhadas se tornaram crises fulminantes. Todos rolavam no chão, à beira de um ataque. Não tive escolha. Abri os tentáculos e fiz com que mexessem. Primeiro descontroladamente, depois em movimentos circulares e, para finalizar, dançando macarena. O ataque aconteceu. Riram tanto que caíram duros no chão.

Com um sorriso no rosto, estendi a mão à palmatória. Literalmente. Apanhei o bilhete que me estendiam e fui para casa tranquilamente. Entreguei o bilhete à minha mãe como quem exibe uma medalha. Ela se assustou. Nota “D” em comportamento e uma semana de suspensão? Não tinha escolha, mamãe. Tive que matá-los.

2 comentários:

Igor Graciano disse...

Tá inspirada hein! Fiquei uma semana sem aparecer por aqui e já tem dois textos pra a gente se divertir. Acho que eu deveria lê-los antes de comentar né. Talvez escreveria algo mais pertinente. Bom, mas tá em tempo ainda.... até já.

Carol Rosa disse...

João Silvério Trevisan: Enquanto tiver que brigar para viver meu amor da maneira que eu GOSTO eu vou brigar.