quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ladrão

Eu não sou ladrão, não senhor. Não ando por aí de terno, gravata e valise na mão. Nem limpo eu ando. Ladrão anda limpo, porque trabalho, trabalho mesmo suja. Trabalho não tem nada a ver com roupa engomada, creme para as mãos, sapato lustrado. E ladrão é aquele cara que não tem mão calejada, respingo de tinta e suor na testa. Isso tudo eu tenho. Se quiser, tire uma foto minha, leve minha roupa como evidência.

Pode checar aí na gravação que eu não falo direito. Isso lá é coisa de ladrão? Ladrão que é ladrão compra educação. Só não exercita com a gente. Mas fala errado na frente de ladrão pra ver. Ele tira sarro do senhor. Isso se ele enxergar o senhor, porque ladrão é meio míope. Só enxerga números – de cédulas, de contas, de eleitores – só números. Eu nem contar sei. Como é que eu vou ser ladrão?

Se o senhor precisar de alguém que confirme que eu sou trabalhador, é só ir lá no bar do Luizão e perguntar para os meus amigos. Porque, o senhor sabe, ladrão não tem amigo. Ladrão só anda com ladrão. É pra caso alguém diga que ali tem ladrão, um apontar o outro. E o pior é que quando gritam “pega ladrão”, é gente como eu que corre.

Eu corro mesmo é porque ladrão adora dizer que a gente é ladrão. Eu pelo menos não sou. E nem é por convicção. É por falta de oportunidade. É o povo que escolhe o ladrão e ninguém me elegeu para isso. É uma pena decepcioná-lo, mas não vai ser o senhor que vai capturar um ladrão. De ladrão escolhido pela gente, só a gente pode cuidar. E se ladrão não liga pra gente, a gente liga menos ainda pra ladrão. Afinal, dá menos trabalho criar um ladrão a cada quatro anos que destruir um por dia. E, no final das contas, não faz mesmo sentido. Pra que tirar a autorização para roubar se foi a gente mesmo que fez o ladrão?

2 comentários:

Igor Graciano disse...

A honestidade é o medo de ser pego. O Governo é o espelho do povo mesmo.

Danilo Thomaz disse...

Marcia: Oi, meu nome é Márcia, eu sou assistente da Flávia...

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Carol Rosa: Ãh? Ah, obrigada!