Era uma vez um País Muito Distante. Lá todos viviam sem ordem alguma, do jeito que bem entendiam. Mas um dia, um cidadão país-muito-distanense entendeu que outro cidadão país-muito-distanense havia lhe dito algo que poderia ser ofensivo e foi se queixar aos outros país-muito-distanenses. Eles decidiram então que algum tipo de ordem deveria ser estabelecida e assim foi organizado o 1o Congresso de Ordem de País Muito Distante.
No congresso, decidiu-se pela escolha de um juiz. Ele seria responsável por julgar as injustiças de País Muito Distante e determinar a devida punição. O primeiro caso a ser julgado, é claro, foi o do país-muito-distanense que havia se considerado ofendido. O caso era o seguinte: em uma conversa, um dos amigos havia chamado o outro de “alienado” e o outro havia revidado dizendo que ele era um “imbecil”.
Após um tempo de avaliação, o juiz acabou por decidir que “alienado” não era uma ofensa e que portanto, o Imbecil não merecia punição. Já “imbecil” era sim uma ofensa e, nesse caso, o Alienado deveria ser punido com um mês de serviço comunitário ao povo de País Muito Distante.
Revoltado, o Alienado reclamou que não cabia ao juiz decidir o que era e o que não era uma ofensa, e sim o que era e o que não era uma injustiça. Foi assim que o povo resolveu que era hora de escolher um juiz de ofensas, que determinaria o que era e o que não era uma ofensa em País Muito Distante.
O juiz de ofensas determinou três tipos de ofensa: as ofensas pesadas, as ofensas médias e as ofensas leves. No grupo das ofensas pesadas se encaixavam os palavrões. As ofensas médias eram aquelas cujo termo se encontrava no dicionário, mas que causava humilhação quase no mesmo nível que dos palavrões, como “imbecil” e “alienado”. Já as ofensas leves eram as que não eram ofensas por definição, mas que poderiam ser consideradas como tal, como por exemplo, a expressão ambígua “E sua mãe, como vai?”.
Lendo as regras do juiz de ofensas, o povo país-muito-distanense percebeu que era ofendido mais vezes do que acreditava ser afinal, havia sempre alguém perguntando como estava a mãe de alguém, ou se fulano estava lá na esquina. Então, como era de se esperar, os tribunais se encheram de pedidos de reparação vindos de todo país. E foi com a finalidade de resolver isso que organizou-se o 2o Congresso de Ordem de País Muito Distante.
Discutindo, os país-muito-distanenses decidiram que o ideal a se fazer nesse caso era cortar o mal pela raíz. Era preciso então definir a raíz do problema e, após muito debate, determinou-se que a tal raíz eram os meios de comunicação, que levavam conhecimento impróprio à população. Surgiu assim o censurador, aquele que cuidaria de eliminar todas as ofensas dos meios de comunicação de País Muito Distante.
Foram tantas as ofensas retiradas pelo censurador, que os cidadãos de País Muito Distante ficaram com um vocabulário escasso de 100 frases, todas prontas. Isso tornou impossível os costumeiros grupos de discussão literária dos domingos, os debates acalorados sobre as novas descobertas cientificas e até mesmo aquela conversa informal na hora do almoço.
Finalmente o povo de País Muito Distante estava como gostaria de estar: ordenado. Eles perceberam então que, estar ordenado é seguir uma Ordem Superior. E afinal, para que pensar por si próprio e correr o risco de ser rejeitado quando existe alguém que pense por você? Mas infelizmente o exemplo não serve para outros países afinal, os outros países estão próximos, e esse é um país muito, muito distante.
Carol Rosa
quinta-feira, 22 de março de 2007
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