quinta-feira, 21 de junho de 2007

Cartão Fidelidade

- O senhor foi o único que já me ofereceu fidelidade. Não se ofenda, mas eu preferiria que tivesse vindo do Celestino. Sabe como é, essa coisa de paixão. Celestino causava isso em todo mundo, menos na Vânia. Era porque ela tinha preconceito, preconceito porque Celestino era bandido. Até pensei em processar a Vânia (O senhor sabe, preconceito é crime), mas irmã aprende a esquecer essas coisas. Ainda mais depois que vi Celestino chegando. Ele trouxe com ele telefone celular, pulseira de mola, anel de pé, dente de ouro e cartão das Americana. Foi a felicidade, pra mim e pra Vânia. Mais ainda assim a danada não largou do pé do Celestino. Dizia que ele não me merecia. Mas merecia. Merecia tanto que tive que amarrar. Não o Celestino, a alma dele. Fiz de tudo. Meti o dedo na vela acesa, lambi sangue, matei galinha, cheirei cueca suja, ajoelhei na encruzilhada, joguei farinha no olho. Mas não adiantou. Um dia, sem aviso nenhum, Celestino evaporou. Foi embora e levou consigo telefone celular, pulseira de mola, anel de pé, dente de ouro, cartão das Americana e a Vânia. Fiquei desconsolada. Saí por aí sem rumo e acabei parando aqui. De repente me aparece o senhor, me oferecendo um novo cartão das Americana totalmente de graça, sem anuidade. E nem é só um cartão, é um Cartão Fidelidade. Olha moço, eu nem sei o que dizer. O senhor saiba que eu sou do senhor agora. O senhor tem a minha fidelidade, moço. E pra sempre. Ouviu, moço? Moço?

- Mãe? Com quem a senhora estava falando?

- Nada filha. Mais um desses vendedores chatos. Relaxa, ele não vai mais encher o saco.

2 comentários:

Pedro Pimenta disse...

Já observou aquela flecha no alto da página ("próximo blog"). Eu não havia, até hoje. Eis que inicio a vagar por blogs e mais blogs.... até que caí aqui. Achei aconchegante, gostei dos escritos, da fluência. "Bairro bom, arejado, muita luz"... Caros miolos da Carol, se eles estiverem interessados sugiro também olhar em um blog de um completo anônimo ("mas que perigo!"). Os últimos textos são fracos, mas vá no "history" e vai encontrar coisas legais.
Gostei da fidelidade, ainda que preferisse que não fosse um telefonema, mas a mulher contando a vida dela para alguém que ofereceu na rua... O telefonema deixa mais leve e cômico.
ahh o blog é:
changez-tout.blogspot.com

Pedro Pimenta disse...

Psicóticos miolos:
Convidei-a para visitar a casa, mas a mesma não se encontrava arrumada;milhões de desculpas-a correria cotidiana-
Mas estou com uma vontade: Quer contribuir como autor-defunto, ou qualquer coisa assim?
O changez nos seus tempos de beleza era um blog criativo de quatro colegas de vida. Hoje(pausa dolorosa)... Quanta penúria! Quanta seca...
Mas, enfim, vamos aos negócios (negando o ócio, mesmo): Quer escrever um conto/poesia construtivista/método científico/teorema matemático para o changez?
Acho que um autor-defunto atiçaria um pouco as coisas por lá.
Assim como seremos nós então defuntos-autores, capazes,quiçá de atiçar qualquer coisa.