Papai morreu. Um dia eu acordei e ele não estava no meu café. A zanga dele não estava no meu chuchu. O sorriso dele não brilhava nos meus balões. Os sussurros dele não ecoavam pelo quarto.
Perguntei onde estava papai. Todos sabiam onde ele havia estado, ninguém sabia para onde havia ido. De apenas uma coisa tinham certeza: papai havia morrido.
Os cabelos continuavam a branquear. Os filhos cresciam. As mães diminuíam. Os pombos zombavam. Os zombados se lavavam.
A tinta dos jornais ainda se casava com as mãos. As mãos se casavam com os membros. Os membros se casavam com a polêmica. A polêmica se casava com os políticos. Os políticos se casavam com os jornais.
O Palmeiras não adiou o jogo de domingo. O domingo não adiou o tédio. O tédio não ajudou os miolos. Os miolos não adiaram a verdade: papai havia morrido.
Papai não era o culpado. Nem a luz fria no teto. Nem a sopa fria do hospital. Nem a mancha fria no jaleco. A morte, muito menos a morte. Culpado era o mundo. Pois papai havia morrido e o mundo ousou girar como se nada, absolutamente nada tivesse acontecido.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
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Um comentário:
Ai, Rosa...
Qdo é que vc vai lançar um livro cheinho dessas coisas lindas q vc escreve?
Quero um, p/ guardar junto à minha coleção de cabeceira, que fica à distância de um braço esticado e bem acessível de pegar p/ dar mais uma olhadela!!!
bjs
Rê Piacente
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